sábado, 19 de janeiro de 2013

Obra Premiada 3 - Salão da Vida


Obra Premiada - Salão da Vida


Obra Premiada 1


Geometria do Vazio

Há um dínamo natural, uma força lírica que nos impulsiona ao longo da existência, e que permeia nossos esforços em afirmar o que somos através do que conseguimos criar, de nossas elaborações sígnicas. Tais elaborações podem se dar por meio, por exemplo, da construção de uma casa, da estruturação de uma carreira ou de uma reputação, da edificação de uma família. Para um artista, isso se dá através do engendramento de obras de arte.
Em Francelino Mesquita podemos encontrar, sem equívocos, os arquétipos estruturais de suas intenções estéticas, equilibrando-se em calculadas forças que se paramentam e erigem, entre linhas e pontos de contato, seu tratado físico sobre a leveza. Suas estruturas em talas de miriti – a matéria-prima cientificamente cunhada de mauritia flexuosa – são, a um só tempo, desenhos e esculturas. Ou desenhos tridimensionados. Ou esculturas que prescindem do espaço plano, privilegiando a linha, seus interstícios, seu discurso de tramas e circunvoluções.
Além de organizar esses desenhos e esculturas, Francelino constrói concomitantemente uma poética do vazio, uma arte mais do gesto geométrico, como se esculpisse o vão. Isso nos remete a pensar na desmaterialização, no efêmero do ser como matéria, principalmente porque importa para a obra sua relação de luz e sombra.
Um caminho contemporâneo, que se revela um desdobramento dos móbiles e estábiles de Alexander Calder, mas também afirma, em simplicidade e arrojo, a identidade de uma cultura em filigranas, em laminações que ponteiam desde a infância, a planura onírica de um céu azul sobre o qual desenhamos, amiúde, linhas de cerol e pipas coloridas. Esta reminiscência atemporal, segundo o próprio artista, alimenta seus esquemas lúdicos em miriti, e suas flutuações.
Deste modo, Francelino trata, por geometria e invenção, de diálogos entre o masculino e o feminino, entre o peso e a leveza, entre a sua própria formação ligada à engenharia, e os eflúvios oníricos da arte. A linha, presente desde os croquis no papel, é transposta às estruturas de miriti, materializada também nas amarras e ligaduras dos fios de nylon, e finalmente é transubstanciada nas sombras das mesmas estruturas, projetadas na parede, num jogo alquímico-conceitual que amplia os horizontes da obra, tornando-a vizinha próxima da instalação, num hibridismo próprio das manifestações artísticas contemporâneas.

Renato Torres e Ilton Ribeiro
Técnicos em Gestão Cultural


FONTE: http://www.myspace.com/379968617/blog